quarta-feira, 23 de abril de 2008

Algum dia


(para Narjara Oliveira,
esta tradução que tudo traduz.)
Algum dia encontrarei uma palavra
que penetre teu ventre e o fecunde,
que pare em teu seio
como uma mão aberta e fechada ao mesmo tempo.

Acharei uma palavra
que detenha teu corpo e o entorne,
que contenha teu corpo
e abra teus olhos como um deus sem nuvens
e use tua saliva
e te dobre as pernas.
Tu talvez não a escutes
ou talvez não a compreendas.
Não será necessário.
Irá por teu interior como uma roda
percorrendo-te ao fim de ponta a ponta,
mulher minha e não minha
e não se deterá nem quando morras.


Roberto Juarroz.............................Tradução Pedro Vianna

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Alvorada


photo: Francesca Woodman
Na madrugada ela deita com seu perfil naquele ângulo
Que, quando ela dorme, parece a face talhada de um anjo.
Seu cabelo uma harpa, que a mão da brisa persegue
E toca, contra a nuvem branca dos travesseiros.
Então, em uma explosão rosa, ela acordou, e os seus olhos abertos
Nadaram em azul através de sua rósea carne amanhecida.
Do orvalho de seus lábios, a queda de uma palavra
Caiu como a primeira das fontes: murmurou
"Querido", em meus ouvidos a canção do primeiro pássaro.
"Meu sonho torna-se o meu sonho", ela disse, "realizado.
Eu acordei de você para o meu sonho de você."
Oh, meu próprio sonho acordado então ouso assumir
A audácia do seu sono. Os nossos sonhos
Vertidos nos braços um do outro, como riachos.



Stephen Spender....................................Tradução
Pedro Vianna