sexta-feira, 1 de outubro de 2010

ordálio

Nelson Magalhães Filho.

ANJOS BALDIOS 2009,

acrílica s/tela, 140X200 cm



sob um súbito céu de chumbo

atiro ao rio esta palavra-pedra

retirada à força de um velho texto

há pouco lido & já esquecido


já sem rancor ou piedade

assisto à sua inútil batalha

– sílaba a sílaba soletrada –

sobre a página silente das águas


de sua respiração sufocada

surgem outros novos significados

à margem de minha vontade:

ecos de uma canção submersa


vejo & não vejo seu corpo

– ração devorada por peixes –

descer ao mais-fundo-fim

do negro rio da linguagem


e quase ouço seu silêncio

unindo-se à voz dos afogados

numa oração incompleta

feita de espera e ausência


eis que da treva profunda

das líquidas entranhas do tempo

surge a sombra de um verbo

manchando o dorso das águas


e retornas às minhas mãos

– ó íntima nau ressurreta –

não mais palavra ou pedra

mas revelação do juízo apenas:


frio cadáver do poema


sexta-feira, 21 de maio de 2010

a criação do nu



reina sobre minha visão

a imagem quase-abstrata

do um corpo diluído

& transfigurado

pelo hálito incestuoso

de Rimbaud


seus cabelos (roubados

de um cavalo morto)

desenham uma trajetória

instintiva no calcinado

coração dos loucos


antes que a noite caia

sobre o horto incendiado

da luxúria, uma luz

há de romper sua estática

submissão agonista


& deformar sua figura

corrompida por minhas mãos

de carícias homicidas

segunda-feira, 19 de abril de 2010

IAP divulga contemplados com Bolsa de Literatura

O Instituto de Artes do Pará (IAP) divulgou na última quinta-feira, 15, o resultado do Prêmio IAP de Edições Culturais 2010 e da Bolsa de Pesquisa, Experimentação e Criação em Artes Literárias 2010. Para a Bolsa de Pesquisa foram contemplados os projetos “Eutanásio”, de Nilson Oliveira, e “Identidade Solar”, de Pedro Vianna. O júri foi composto pelos poetas Antônio Moura e Marcílio Costa.

Já o Prêmio IAP de Edições Culturais contemplou quatro autores, que terão seus livros publicados pelo instituto. No gênero Auto Popular, o escolhido pelo júri, integrado pelo dramaturgo Nazareno Tourinho e pela professora de teatro Olinda Charone, foi o trabalho “O Filho do Sereno”, de Raimundo Harles Oliveira Carneiro. No gênero Ensaio, o júri, contemplou a obra “Andara: Vicente Franz Cecim e a Narrativa Ontológica”, de Karina Jucá. Os trabalhos inscritos foram avaliados pelas prfessoras Marisa Mokarzel e Amarílis Tupiassu.

No gênero Cordel, foram vencedores dois trabalhos: “O Menino que Ouvia Estrelas e se Sonhava Canoeiro”, de Antônio Juraci Siqueira; e “Tempos Melhores Virão”, de Jaziane Almeida Malcher. Nesta categoria, o júri foi formado pelos doutores em Literatura Oral José Guilherme de Oliveira Castro e José Guilherme dos Santos Fernandes. As duas obras serão editadas em um mesmo volume da categoria Cordel.

Em 2010, o Prêmio IAP de Artes Literárias foi dividido em Prêmio IAP de Edições Culturais, voltado aos gêneros Auto Popular, Ensaio e Cordel – este último incluso pela primeira vez na premiação, reforçando a valorização da cultura e tradições populares -, e Bolsa de Pesquisa, Experimentação e Criação em Artes Literárias, cujo objetivo é estimular a investigação e a concepção de novos caminhos temáticos e formais para a literatura produzida no Pará, buscando, ao mesmo tempo, interrogar suas raízes mais genuínas (pesquisa) e ampliar seus horizontes teóricos e práticos (pesquisa e experimentação).

O escritor Vicente Franz Cecim, da gerência de Artes Literárias, explica como surgiu a ideia da criação da bolsa. “Ao longo desses anos, através da realização do Prêmio IAP, conhecemos mais de perto as necessidades dos autores e percebemos que precisávamos estimular a pesquisa em literatura, permitindo que os autores estudem e façam experimentações em termos de linguagem e nas temáticas e, nesse processo, inserir a literatura paraense na contemporaneidade”.

Nilson Oliveira, contemplado com a Bolsa de Pesquisa, comentou sobre a importância do Prêmio IAP, já que é a primeira vez que um órgão dá bolsas de pesquisa literária no Pará. “O trabalho do IAP é, sem dúvida, singular. Muito do que tem acontecido de expressivo na cena artística paraense, em termos de literatura, artes plásticas e visuais, passa pelos agenciamentos do IAP. É um acontecimento visível, algo saudável para os desdobramentos da cena. No caso mais especifico das bolsas de pesquisa literária, essa iniciativa cumpre um papel fundamental para os novos rumos da literatura, uma vez que possibilita condições para o escritor criar, experimentar, desenvolver seu trabalho. É uma bela iniciativa!”

Para Karina Jucá Ferreira, a seleção de seu trabalho foi a premiação de um projeto antigo. “Foi meu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) de 2003 e estava engavetado. Mas, era um sonho antigo publicá-lo. Sou poeta também e pretendo publicar meus poemas, mas gosto muito de ensaios e críticas”.

O IAP publicará três livros, com tiragem de mil exemplares cada, cabendo aos seus autores 500 exemplares, permanecendo 500 exemplares no IAP, para divulgação institucional da obra e doação a bibliotecas públicas.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Homem na rua


O fantasma de um gênio - Paul Klee

.

Tropeçando pela rua sombria, estreita,

você ouve passos seguindo lentos o seu aquiescer,

verifica ao parar, e oh, quão bem há de saber

que forma, no infinito, seu destino espreita:

a si mesmo, retido para dar-lhe a chance de crescer.

.

Robert Stock

Tradução: Pedro Vianna