sexta-feira, 1 de outubro de 2010

ordálio

Nelson Magalhães Filho.

ANJOS BALDIOS 2009,

acrílica s/tela, 140X200 cm



sob um súbito céu de chumbo

atiro ao rio esta palavra-pedra

retirada à força de um velho texto

há pouco lido & já esquecido


já sem rancor ou piedade

assisto à sua inútil batalha

– sílaba a sílaba soletrada –

sobre a página silente das águas


de sua respiração sufocada

surgem outros novos significados

à margem de minha vontade:

ecos de uma canção submersa


vejo & não vejo seu corpo

– ração devorada por peixes –

descer ao mais-fundo-fim

do negro rio da linguagem


e quase ouço seu silêncio

unindo-se à voz dos afogados

numa oração incompleta

feita de espera e ausência


eis que da treva profunda

das líquidas entranhas do tempo

surge a sombra de um verbo

manchando o dorso das águas


e retornas às minhas mãos

– ó íntima nau ressurreta –

não mais palavra ou pedra

mas revelação do juízo apenas:


frio cadáver do poema


2 comentários:

Yan Venturin disse...

adorei o poema, e o blog como um todo. Vou seguir e divulgar no meu , algum problema ? Se puder de uma olhada lá no meu,quem sabe dar umas dicas!? estou começando e me manterei constante por aqui pois sinto ter muito a aprender com seus versos.. Abraços

Alisson da Hora disse...

O frio cadáver do poema...

belo poema =)

obrigado pela visita.