domingo, 11 de dezembro de 2011

Sugestões para melhorar a Imagem Pública dos Beatniks


Carl Solomon, Patti Smith, Allen Ginsberg e Willian Burroughs


O mais importante agora é mudar o cheiro dos Beatniks. Ao invés de usarem, por exemplo, a palavra ”merda” tantas vezes em seus poemas, eu sugiro que eles taticamente substituam pela palavra “rosa” onde quer que a outra palavra ocorra.

Isso é apenas um pequeno ajuste.

Isso é tão igualmente AVANT GARDE que a arte não sofrerá prejuízos.

Ao invés de dizer “MERDE” eles dirão “Uma rosa é uma rosa é uma rosa.” Tão AVANT GARDE, podem ver, com uma considerável melhora no efeito criado.


Carl Solomon
Tradução: Pedro Vianna

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Carl Solomon




“…que jogaram salada de batatas nas palestras sobre Dadaísmo na CCNY e posteriormente se apresentaram nos degraus de granito do hospício com a cabeça raspada e fala de arlequim suicida, exigindo lobotomia instantânea...”


(Do Uivo (para Carl Solomon) de Allen Ginsberg)


Sim, Carl Solomon realmente jogou salada de batatas durante uma palestra sobre dadaísmo no City College de Nova Iorque. Ao fazer isso, ele e seus amigos estavam realizando uma performance artística, mas anos mais tarde, quando Solomon pediu uma lobotomia para acabar com sua angústia psicótica ele não estava sendo nada artístico.


Solomon, nascido em 30 de março de 1928 no Bronx, é mais famoso por ter inspirado o poema "Howl", do que por qualquer de suas próprias realizações. Ele e Ginsberg se reuniram em uma sala de espera em um hospital psiquiátrico, onde Ginsberg foi visitar sua mãe. Solomon era interno lá. Apesar de seus problemas mentais, ele tinha uma inteligência hiperativa, e foi capaz de instruir Ginsberg em vários pontos literários, apesar do fato de Ginsberg ter dois anos a mais.


O tio de Carl Solomon era AA Wyn, editor de livros de bolso da Ace. Carl trabalhou intermitentemente com seu tio, e Ginsberg uniu-se a Carl e seu tio para ajudar a publicar os seus, então impublicáveis, ​​amigos William S. Burroughs e Jack Kerouac. A Ace finalmente utilizou o romance, "Junky Burroughs", como metade de um thriller barato de "Dois livros em um". Mas eles estavam entre os muitos editores que rejeitaram "On The Road" de Kerouac.


Solomon nunca foi realmente um escritor, embora os leitores de "Howl", muitas vezes acreditem que ele era. Tarde na vida, ele atendeu a essa expectativa ao escrever dois livros de ensaios elípticos, psicóticos e eruditos e curiosamente curtos: "Mishap, Perhaps " em 1966 e " More Mishaps " em 1968. Seu " Emergency Messages ", na mesma linha, foi publicado em 1989.É interessante que Kerouac, Ginsberg e Burroughs viajaram cada um com um "fantasma" – uma imagem no espelho com menos formação literária, mas mais "autenticidade". Kerouac teve o espírito livre e carismático de Neal Cassady, Burroughs teve a malandragem junkie das ruas de Herbert Huncke. Ginsberg, que sempre parecia inspirar o estado de insanidade, teve Carl Solomon.


Texto: Levi Asher

Tradução: Pedro Vianna

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O VESTIDO







Para desespero de Valquíria, o vestido só chegou às quatro. Quando a costureira bateu à porta ela desceu as escadas em disparada, pouco importando-se com as recém-feitas unhas dos pés. Entregou algumas notas à mulher gorda e suada postada à porta, e não teve ímpeto algum de agradecer ou se despedir. Abraçou o pacote como quem abraça um filho recém-nascido e correu de volta ao quarto, escada acima.



Já no quarto, Valquíria não conseguia conter o entusiasmo. Rasgou o pacote e arrancou de dentro o vestido há tanto esperado. Conferiu a simetria do modelo, os acabamentos da costura e deu-se por satisfeita. Tudo estava conforme o esperado. Suspendeu a peça diante do corpo e postou-se frente ao espelho. Era realmente um belo vestido. Por mais que ele fosse desatento, não deixaria de notar isso.



Pouco antes das cinco começaram os preparativos. Valquíria chamou as empregadas e recomendou capricho no suco e nos canapés. Eduardo chegaria às sete e ela não admitiria falhas por parte das serviçais. Após determinar as instruções sentou-se à penteadeira e pôs-se a pentear os longos cabelos. Nada ofuscaria o brilho daquela noite, e ela teria de estar impecável.



Ao experimentar o vestido, não pode deixar de sentir uma pontinha de orgulho e vaidade diante do que lhe oferecia o espelho. Definitivamente ela achou-se linda. Que mais poderia esperar um homem como Eduardo em plena noite de noivado? Ela já imaginava seus olhos deslumbrados, seus elogios, sua cordialidade elegante, e antegozava o momento quando ele chamaria seus pais e faria o tão esperado pedido.



Valquíria sentou-se no sofá da sala de visitas, depois de passar uma ultima vista no ambiente em busca de qualquer imperfeição. O relógio marcava então seis e trinta, Eduardo chegaria às sete. Conferiu as unhas das mãos, alisou no corpo o vestido e pediu à empregada um espelho e uma escova de cabelo. Pensava em todo o tempo que esperara por esse momento. Pensava encontros escusos, longe dos olhos da família e sentia uma espécie de prazer secreto em lembrar tudo isso.



Passavam 15 minutos das sete quando o pai de Valquíria entrou na sala com a câmera fotográfica nas mãos. A ansiedade da moça era mais que visível e o pai propôs uma foto na tentativa de acalmá-la um pouco. Seria, em suas palavras, a última foto de solteira da filha. Valquíria ajeitou-se no sofá, mas só conseguiu esboçar a sombra de um sorriso diante da situação. O pai deu-lhe um beijo na testa e pediu-lhe calma, afinal, ninguém estava isento de algum imprevisto.


Antes de o relógio marcar nove horas Valquíria levantou-se do sofá, subiu com calma as escadas e trancou-se no quarto. Diante do espelho ela mais uma vez conferiu o cabelo, o rosto, o vestido, e passou alguns minutos perdida entre a contemplação de sua imagem e a compreensão do ocorrido. Talvez Eduardo estivesse indeciso. Talvez de fato algum imprevisto ou um acidente. Quem sabe um parente morto ou adoecido. Talvez até o próprio Eduardo morto.



Mas era melhor não pensar nisso. O melhor a fazer era não tirar o vestido. E se Eduardo chegasse a qualquer momento? E se estivesse a caminho, preocupado, eufórico, em desespero pelo ocorrido. Sim, o melhor a fazer era não tirar o vestido. Valquíria sentou-se na cama e encontrou na posta dos sapatos alguma distração. Até que esse exercício, quase sem sentido, a fez adormecer vestida sobre a cama.



Adormeceu vestida sobre seus sonhos. Adormeceu vestida sobre a sombra de um homem que nunca veio. Adormeceu vestida de seus anseios.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

umas & outras


imagem: Paulo Ponte Souza

umas sim
outras não

umas vem
outras vão

umas nem
outras tão

umas tem
outras dão

umas sem
outras são

umas zen
outras cão