domingo, 22 de junho de 2008

Matéria Jornal Liberal 21/ 06/ 2008 "Pedro Vianna lança hoje livro de poemas"

















Foto: Eduardo Souza

'Sementes da Revolta' está sendo publicado como prêmio por um concurso editorial
O poeta Pedro Vianna lança hoje, no Colégio Ipiranga (avenida Almirante Barroso, entre Humaitá e Vileta), o livro Sementes da Revolta, publicado como premiação do concurso de poesia promovido pela Fundação Ipiranga, no qual ele tirou em primeiro lugar. Sobre o livro, o também poeta Antônio Moura escreveu:

Em seu segundo livro, o poeta Pedro Vianna retoma, ou seria melhor dizer, prossegue em um itinerário em que o espaço urbano é o espaço para a apreensão do fenômeno. E aqui o fenômeno é o poema, que se manifesta ainda de maneira amorfa nos eventos e transforma-se em verbo. E como uma metáfora ou duplo do espaço e tempo, aqui, urbano, o poema assinala a fragmentação como elemento determinante em sua configuração.

Desde a sua grafia, o poema tem, paradoxalmente, no fragmento a sua unidade: a fragmentação visual, através do olhar que depara com o espacejamento fraturado do texto; a fragmentação rítmica, que compõe um sonoridade em staccato ao longo de toda a leitura e, por último - mas não menos importante na totalidade do poema - a fragmentação psíquica a que o sujeito, tanto no interior da cidade quanto no interior do poema, está exposto. Fragmentos de luz, de sombra, fragmentos do desejo, da repulsa, fragmentos do corpo, da mente, armando e desarmando jogos de montar e desmontar a memória, a infância, o cotidiano, a história, o mito, o silêncio e a palavra. Este é um espaço onde a poética se desenrola através da acumulação de sentidos, numa voz lírica impessoal e indeterminada, num lugar onde 'Nem/ a áspera língua do poeta/ estendida/ no/ chão/ vazado das palafitas/ como/ cadáver das marés/ anoitecidas/ em/ círios/ de embriaguez exaltada/ traz algum/ resquício de conforto/ para a/ triste/ &/ promíscua procissão/ de almas/ em convulsa monotonia. Cenário onde a miséria social e a miséria anímica se fundem num pesadelo onde nada acena com um possível conforto.

Já havia assinalado em relação ao seu primeiro livro, Itinerário Interno, que, apesar de centralizado num eu lírico, o verdadeiro personagem do texto era o caminho, de fora para dentro, percorrido por um olhar transfigurador, que, a meu ver, é inerente a arte e a poesia. Neste trabalho presente o itinerário interno continua, só que numa tensão ainda maior em que 'um movimento denso/ construindo/ cicatrizes/ na arquitetura imaginária/ do/ tempo/ perdido/ amortece/ os nervos/ da cidade metálica/ alimentando/ a fúria dos barcos/ entre aromas/ &/ carnificina/ onde/ a morte foi seqüestrada/ pelos espelhos/ da/ infância. Uma fratura permanente na paisagem, nos objetos, no sujeito e na temporalidade que engloba a memória da infância lançada para o presente com todo o peso das coisas existentes, num 'horizonte encarcerado', quase sempre provocante e hostil.


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