quarta-feira, 14 de novembro de 2007

O intruso




Ele invadiu, forçou a fechadura, ou roubou
a chave, e sabia o código para desarmar o alarme,

algum desabrigado, um maluco de rua, inofensivo
você poderia dizer, mas está errado: ele gosta daqui, e ele fica.

Ele vasculha meus armários e gavetas da cômoda
e experimenta minha roupa, e acontece, claro, dela servir-lhe.

Ele corre meu pente nos cabelos. Usa minha escova de dente.
Ele deita no meu lado da cama para um cochilo.

Ele instalou-se. De manhã, ele senta em meu lugar
e toma seu café com torradas, lendo meu jornal.

Ele pega meu carro e dirige para dar minhas aulas;
Durante meu período no escritório ele encontra meus alunos.

Não somos tão diferentes. Mas ele está vivendo minha vida.
Tento alertar meus amigos com quem ele janta

ou minha esposa com quem ele dorme: “Esse não sou eu.
É um impostor. Como vocês não percebem?

Ele é velho! Ele é sujo. E, também, claramente louco!
Como pode enganar-lhes assim? E como vocês o suportam?”

Eles não me dão atenção, fingindo não ter percebido.
Poderiam estar eles juntos nisso de alguma forma?

Mas qual seu propósito? Foi ele também destituído
do apartamento, emprego, e esposa? Isso lançou-lhe em desespero?

E devo eu sair agora em busca de uma vítima,
Invadir sua casa, e começar a viver sua vida?


David R. Slavitt -------- Trad.Pedro Vianna


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